Artigo do jornalista Fernando Sávio publicado no jornal traz informações sobre a vida de Rezek Nametalla Rezek.

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Rezek Nametalla Rezek trouxe sinais de televisão à região de Araçatuba na década de 1960
17/11/2019

No último sábado, 9 de novembro, Araçatuba perdeu um de seus grandes filhos: Rezek Nametalla Rezek faleceu, aos 83 anos, deixando um legado de grandes feitos pela cidade e sua gente. Sua história foi marcada por pioneirismos, a começar pela trajetória de seu pai, Nametalla Rezek, que passou por aqui de trem, em direção ao Mato Grosso, em 1911, quando a cidade tinha apenas três anos de fundação e ainda era um pequeno aglomerado de casas de tábuas ao redor de um velho vagão ferroviário. Voltou em 1924 e aqui se estabeleceu no comércio, como muitos outros libaneses.

Rezek – ou Rezequinho, como os amigos o chamavam -, nasceu em 1936, quando o pai já tinha diversificado os negócios comprando terras e introduzindo uma nova atividade econômica no município: a pecuária, que nos anos 40 atrairia grandes famílias de criadores de gado de Minas e Goiás e tornaria Araçatuba conhecida em todo o Brasil como a “Capital do Boi Gordo”.

Rezequinho se formou em Odontologia, mas nunca deixou a pecuária. Foi presidente do Siran, o Sindicado Rural da Alta Noroeste, por dois mandatos, acompanhando a trajetória do pai que tinha sido um dos fundadores da Associação dos Invernistas e Criadores de Gado da Alta Noroeste, em 1942.

Era um homem aberto ao diálogo e por isso recorremos a ele muitas vezes no final dos anos 80, como chefe de reportagem da TV Globo Noroeste Paulista, para conseguir entrevistas com pecuaristas da cidade. Eles estavam (com razão) revoltados com as reportagens da Globo sobre o confisco de gado nos pastos durante o governo Sarney. Policiais federais montavam cavalos conduzindo bois magros como se estivessem prontos para o abate. “Sou um homem liberal. Gosto de um bom debate”, dizia Requezinho ao nos receber para as entrevistas.

Foi também um homem dedicado às causas sociais e aos serviços à comunidade. Fez parte do grupo que fundou o Lions Club de Araçatuba, em 1959, e também presidiu o Araçatuba Clube nos seus tempos áureos. Em 2001, tornou-se o primeiro presidente da ARCA (Associação Regional da Comunidade Árabe).

Como pecuarista foi um dos responsáveis pela introdução da raça italiana Canchim em Araçatuba. Uma reportagem do jornal “A Comarca”, de 1984, o indica como um dos incentivadores do Pró-Álcool (Programa Nacional do Álcool) em Araçatuba, quando a cana de açúcar começou a fazer parte da paisagem, antes dominada apenas por pastagens.

O que nem todos sabem sobre sua história, no entanto, é sua ligação com a chegada dos primeiros sinais de televisão na região noroeste de São Paulo. Em 1964, quatorze anos depois das primeiras transmissões de televisão no Brasil, Araçatuba ainda se mantinha isolada, sem poder ver as novelas que faziam tanto sucesso na época. Jovens mais afoitos já tinham tentado, sem sucesso, montar uma torre de tubos galvanizados numa chácara da periferia da cidade.

Nesse mesmo ano, ao visitar o irmão, Samir, em Bauru, num final de semana, Rezequinho viu pela primeira vez a transmissão de um teipe de futebol pela televisão. Ficou encantado com a novidade e na mesma noite foi procurar os técnicos responsáveis pela única torre montada na cidade.

Um desses técnicos era o húngaro Anatole Rogastenko, que depois teve participação na montagem da torre em Araçatuba. Mas para que as imagens chegassem até aqui era preciso de mais uma torre de enlace, em Lins. Formou-se então um consórcio e Rezequinho, do Lions, foi buscar ajuda dos clubes rotarianos para viabilizar o projeto. A cidade se uniu: houve listas de arrecadação de dinheiro e até a concordou um inserir na tarifa de água a cobrança extra de um cruzeiro por mês para quem quisesse colaborar.

Nascia assim o Clube Amigos de Televisão de Araçatuba que deu origem depois, em 1968, ao Serviço de Televisão de Araçatuba – o Serteara – uma autarquia municipal que controlava a recepção de imagens de todos os canais de televisão aberta ou via satélite. O clube uniu para sempre amigos como Rezequinho, Wilson Bedaque, e Rubens Carvalho Homem, que tinha adquirido o primeiro aparelho de televisão em Araçatuba, mas o mantinha escondido em sua casa, com medo de aglomerações. Uma das últimas conquistas de Rezequinho à frente do Serteara foi a inauguração da transmissão da Rede Vida para Araçatuba, no governo Germínia Venturolli. Os R$ 85 mil de investimentos foram arrecadados nas paróquias católicas.

A morte de Rezek Nametalla Rezek, aos 83 anos, deixa um legado de grandes conquistas para Araçatuba. Seu nome deve figurar para sempre em lugar bem alto, onde se instalam as torres, irradiando sons, imagens, cores, diversão e alegria para todos os lares. Como Rezequinho sempre sonhou!

Fernando Sávio é jornalista e autor do livro “Letras de Chumbo – a imprensa na história de Araçatuba” Rezek Nametalla Rezek, o pecuarista que trouxe os sinais de televisão.